Como fazer um livro fracassar: nem sempre o fracasso é algo ruim
Na quinta-feira (08), a Liber Editora marcou presença na Livraria da Travessa do Shopping Leblon para colaborar com um evento peculiar: Como fazer um livro… Fracassar. O bate-papo, organizado pela Editora Raíz com o apoio da gente, do Vai Lendo, do Nespe e de outras instituições, deu voz àqueles projetos que morreram na praia ou nem mesmo chegaram a tanto, mas que marcaram seus autores.
Mediado por Leandro Müller (NESPE) e Ronaldo Wrobel, escritor, o auditório lotado e transbordante parou numa noite chuvosa para ouvir como o fracasso é necessário. Juliana d’Arêde, criadora e gestora do site Vai Lendo, inaugurou os relatos explicando a dificuldade que presenciou com o desenvolvimento do seu projeto de incentivo a divulgação de autores independentes. Visto que a grande divulgação de livros hoje em dia se concentra em autores estrangeiros, a iniciativa parecia algo otimista e necessária. Até que funcionou… Mas não como ela gostaria. Os autores não se engajaram da forma que era esperada e o projeto estacionou.
Ronaldo Wrobel contribuiu para a noite com uma estranha viagem ao Quênia. Um de seus livros nasceu por causa de uma ideia que envolvia o Quênia. O autor, portanto, pesquisou tudo e qualquer material sobre o país africano com afinco, dedicando horas de trabalho e atenção até que, como ele brincou, seus personagens se sentaram com ele para dizer que eles não queriam o Quênia. Tudo funcionava perfeitamente – quem sabe até melhor? – sem o país. E o que fazer com as horas perdidas?
O convidado de honra da noite – a parte dos autores que estavam lá para lançar a Coleção Ruído da editora, claro -, Tavinho Paes, dividiu a história de sucesso, mas de retribuição fracassada, de uma composição muito conhecida do público, “Totalmente Demais”, que fez junto a alguns colegas e teve todo freio possível para deslanchar. De censura pela ditadura à desistência de um programa com a música como tema, “Totalmente Demais” é um fracasso e um sucesso: a retribuição financeira da música é mais confusa que achar agulha em palheiro e ainda assim, graças a Caetano Veloso, muita gente nesse mundo conhece os seus versos.
“Como fazer um livro… Fracassar” foi uma introdução perfeita ao lançamento da Coleção Ruído. Muitos autores participaram da discussão animados, dividindo e exaltando a literatura nacional. Dos três casos citados dentre muitos outros que enriqueceram a noite, fica fácil ver que o fracasso nem sempre é o pior resultado. No mínimo eles nos dão lições preciosas, no máximo oportunidades para um novo caminho. A Juliana conheceu obras novas que talvez não conheceria sem o projeto; o Ronaldo terminou com um livro fechado e com muito conhecimento sobre uma nova cultura; e o Tavinho fez uma obra que tocou milhares de pessoas.
Fracassar não é fraqueza. É, na verdade, uma das coisas inevitáveis da vida e, com toda certeza, não define quem você é. Compartilhar fracassos alivia a alma e abre os horizontes. O evento foi inspirador e se mostrou o motor perfeito para um lançamento mais leve da primeira tentativa da Editora Raíz de lançar uma coleção. Ao que tudo indica, o fracasso no entanto passou longe da noite e nos deixou com uma lista de pessoas interessantes, livros bons e sucesso nas mãos.
* O evento “Como fazer um livro… Fracassar” foi uma parceria da Editora Raíz com a Liber Editora, o Nespe, o Vai Lendo, a Editora Jaguatirica, a Hora da Leitura, a FLAM, da Voz à Vossa e do Conversas na Estante.
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